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O Jardim das Delícias Terrenas

O Jardim das Delícias Terrenas é um tríptico de Hieronymus Bosch, que descreve a história do Mundo a partir da criação, apresentando o Jardim do Éden na asa lateral esquerda e o Inferno na asa lateral direita. Ao centro aparece um Bosch que celebra os prazeres da carne, com participantes desinibidos, sem sentimento de culpa. A obra expõe ainda símbolos e atividades sexuais com vividez. Especula-se sobre seus financiadores, que poderiam ser adeptos do amor livre, já que parece improvável que alguma igreja tradicional a tenha encomendado.

Ligada à "utopia" por um lado, mas representando o lugar da vida humana por outro, Bosch revela uma atualidade do seu tempo, dado que essa vida está entre o paraíso e o inferno como se conta no Génesis. O tríptico, quando fechado, tem uma citação transcrita desse livro "Ele mesmo ordenou e tudo foi criado". Entre o bem e o mal está o pecado, preposição cristã. No jardim, painel central, estão representações da luxúria, mensagem de fragilidade nas envolvências do vidro e das flores, refletem um carácter efémero da vida, passagem etérea do gozo, do prazer.

Enquanto "utopia", porque transcreve de modo imaginário na imagem um "real", que mais se aproxima do surreal, e representa, mesmo que toda a sociedade e a cultura ocidental esteja marcada por essa estrutura, uma história "utópica" do seu tempo.

Entre um "bem" e um "mal" está a vida e o pecado, de certo foi aplicado, mas no início seria apenas uma projeção.

História do tríptico Como o restante das obras de Bosch, carece de datação unânime entre os especialistas, sendo esta uma das de mais enfrentadas posições, pois enquanto uns a consideram juvenil, outros dizem que é obra de maturidade. Baldass e outros a situam na época juvenil de Bosch (1485). Cinotti a situa por volta de 1503. Outras fontes a situam por volta de 1510. Tolnay e Larsen situam-na afinal da atividade de Bosch (1514-1515). As análises dendrocronológicos datam-na depois de 1466. O catálogo da exposição sobre o artista celebrada em Roterdã em 2001 assinala a data entre 1480 e 1490.

A partir de Gibson e até a atualidade (Hans Belting, 2002) conjeturou-se que fora realizada para Henrique III de Nassau. Os primeiros possuidores da obra foram, pois, os membros da casa de Nassau, em cujo palácio de Bruxelas pôde ver o quadro o primeiro biógrafo de Bosch, Antônio de Beatis, personagem que viajava no séquito do cardeal de Aragão, em 1517. Sua descrição não deixa lugar a dúvidas de que se encontra frente ao famoso trítico: «Depois há algumas tábuas com diversas bizarrias, onde se imitam mares, céus, florestas e campos e muitas outras coisas, uns que saem de uma concha marinha, outros que defecam grous, homens e mulheres, brancos e pretos em atos e maneiras diferentes, pássaros, animais de todas as classes e realizados com muito naturalismo, coisas tão prazenteiras e fantásticas que em jeito algum se poderiam descrever àqueles que não as tiverem visto».

Foi herdado pelo seu filho René de Châlon e depois pelo sobrinho de Henrique, Guilherme I, Príncipe de Orange, líder da rebelião holandesa contra a coroa dos Habsburgo. Foi confiscado pelo duque de Alba, incluindo-se no inventário redigido com tal motivo a 20 de Janeiro de 1568. O duque deixou os quadros a D. Fernando, seu filho natural e prior da ordem de São João.

Foi comprada por Filipe II na leilão dos bens de Dom Fernando, e enviada para o mosteiro do Escorial em 8 de Julho de 1593. Colocou-se no dormitório do rei, onde esteve até sua morte. É a pintura mais famosa da coleção de nove de Hieronymus Bosch que Filipe II reuniu em El Escorial.

A princípio ao quadro denominou-se Uma pintura sobre a variedade do mundo. Logo, o "Quadro das fresas", denominação que se deve ao monge do Escorial José de Sigüenza, o primeiro crítico da obra. Poleró, que propõe em 1912 uma catalogação das obras do Museu do Prado, denomina o trítico Dos deleites carnais. De aí sai a sua denominação atual de "Jardim das delícias" ou "Das delícias terrenas". Foi transladado ao Museu do Prado em 1936 para a sua proteção devido à Guerra civil espanhola. Depois da guerra, por desejo de Franco entrou a fazer parte das coleções do Prado.

Estilo Estes quadros parecem uma censura implacável, mas a sua inacabável fantasia, e o enquadre poético os faz, apesar de tudo, divertidos e otimistas. Sua ironia e burla do mundo se contrapõem com o realismo hierático de Jan Van Eyck.

O objetivo parece ser o de moralizar mediante ácidas críticas, que recordam a tradição medieval que se servia da deformação e a caricatura para revelar a malícia das suas personagens. Esta é a opinião tradicional, como considera seu primeiro analista, Frei José de Sigüenza (1605):Recursos pictóricos: Porém, Bosch supera as suas fontes graças à bagagem herdada dos Van Eyck e outros pintores flamencos, que lhe proporcionaram numerosas ferramentas pictóricas. À crueza medieval acrescenta, agora, uma visão poética graças aos recursos nos quais Bosch era um mestre: foi um grande desenhista, um mestre da cor do chiaroscuro, o tratamento da luz e da perspectiva; a paisagem (luminosa ou crepuscular), que apesar de ser irreal é sempre lírica. O claro cromatismo da ala esquerda e da tábua central comparou-se com miniaturas persas (L. v. Puyvelde), enquanto a grandiosa representação noturna da parte superior do inferno anuncia as cenas de noite dos séculos XVI e XVII.

Composição: É aparentemente caótica, com múltiplas cenas colocadas sem uma ordenação espacial clara, embora que todas as cenas pareçam existir grandes objetos que agem como eixos organizadores (as fontes na primeira tábua, os tanques na segunda, e o homem-árvore e a sanfona na terceira). Coloca sempre a linha do horizonte muito alta para conseguir profundeza e poder pôr planos sucessivos que, apesar da sua independência, se fundem entre eles. Apesar de ser composto por numerosos pequenos detalhes, o trítico baseia-se numa composição muito reflexionada. O paraíso e a terra estão unidos pela mesma claridade e um mesmo horizonte, repetindo nelas a estrutura circular e as lagoas. Porém, o inferno é diferente, noturno, sem esperança.

between 1490 and 1500
Oil on oak panel
205.5 x 384.9cm
P002823
Imagem e texto cortesia de Wikipedia, 2023

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Museu do Prado
Museu do Prado
Coleção Permanente